Nos últimos anos, vários países do mundo têm detectado aumento no número de casos de coqueluche. Muitos são os relatos recentes sobre esses eventos, como o ocorrido na Austrália, que registrou mais de 40.000 casos da infecção em crianças e adultos entre julho de 2010 e julho de 2011, o que representou aumento significativo da incidência anual média da doença naquele país. O incremento foi observado também em vários Estados dos EUA. No Brasil, o ano de 2011 foi marcado por surtos em Alagoas e na Bahia. Desde 2000, o Estado de São Paulo tem um sistema de vigilância da coqueluche baseado em unidades sentinela, o qual também constatou que o número de casos confirmados da doença está em ascensão.
A maior parte dos doentes encontra-se na faixa etária de menos de 1 ano e, principalmente, de menos de 6 meses, quando a imunização contra coqueluche ainda não está completa. Contudo, nos locais onde a cobertura vacinal é elevada, como São Paulo, a doença frequentemente afeta adolescentes e adultos jovens. Acredita-se que o principal motivo para a permanência da circulação da Bordetella pertussis se deva à queda dos títulos de anticorpos protetores, de cinco a dez anos depois da infecção natural ou da última dose da vacina. Em consequência da redução da imunidade contra a bactéria, os adultos portadores podem adoecer, além de se tornarem as principais fontes de infecção para os bebês. Desse modo, a coqueluche deve fazer parte do diagnóstico diferencial de tosse não produtiva, não somente nos lactentes, mas particularmente nos adolescentes e adultos.
Com base nessa constatação, muitos países têm modificado as recomendações de imunização contra a coqueluche, até então feita com DTP apenas para crianças, em um esquema de cinco doses, das quais três no primeiro ano de vida, com o primeiro reforço aos 15 meses e o segundo entre 4 e 6 anos de idade. A nova recomendação prevê que o reforço seguinte, anteriormente feito aos 15 anos com a vacina dT – portanto, sem o componente pertussis –, passe a ser realizado com a vacina tríplice bacteriana acelular formulada especificamente para o adulto (dTpa), o que é endossado pela Sociedade Brasileira de Imunizações. Entretanto, o calendário oficial brasileiro ainda não incorporou a dTpa, de modo que é muito importante o reconhecimento e a confirmação diagnóstica da doença, dado o risco de complicações graves, especialmente em menores de 1 ano.?
Até recentemente, o método diagnóstico mais difundido era a cultura de material de nasofaringe em meio seletivo. Embora sua especificidade seja de 100%, a sensibilidade não ultrapassa os 60%. Além disso, sua positividade é satisfatória apenas nas duas primeiras semanas após o início dos sintomas e diminui abruptamente se for iniciada a antibioticoterapia. Assim, a PCR em tempo real para a pesquisa do DNA da B. pertussis, realizada no mesmo material, oferece vantagens, uma vez que apresenta maiores sensibilidade (de 77% a 99%) e especificidade (de 86% a 99%). Além de permitir o diagnóstico até a terceira semana após o início dos sintomas, o exame pode ser coletado até 72 horas a partir da introdução de antibióticos, com chances consideráveis de detecção do DNA.
A sorologia para coqueluche, que identifica anticorpos das classes IgM e IgG contra a bactéria, tem aplicação limitada. Além de o exame ser menos sensível, há ainda o fato de os anticorpos só serem detectáveis mais tardiamente em relação à positivação da PCR, de modo que, diante da disponibilidade da técnica molecular, o teste sorológico deve ser reservado aos casos em que os sintomas persistirem por mais de três semanas, nos quais a análise de duas amostras, com intervalo de 14 dias entre as coletas, pode confirmar o diagnóstico, constatando o surgimento ou o aumento dos títulos de IgG.
Fonte: http://www.fleury.com.br/
Pesquisa do DNA da B. pertussis ajuda a diferenciar a coqueluche de outras síndromes de tosse prolongada
Por: Dr. Jorge Luiz Mello Sampaio, Dr. Celso Granato e Dra. Carolina S. Lázari?